terça-feira, agosto 23, 2005


Apito de chamar doido

Existem três pessoas que conheço que sofrem do mal que alguns chamam de "apito de chamar doido" em níveis perigosos para a própria saúde: eu, meu irmão e o DC (que também já postou sobre isso). O DC ainda é abençoado pelo fato que a grande maioria chega até ele por meios indiretos, como a internet por exemplo, o que de vez em quando permite que ele possa escolher manter uma distância segura do ser que o abordou (ou não). Já eu e meu irmão...

Funciona mais ou menos assim: imagine algum lugar extremamente movimentado, como uma porta de estádio em dia de jogo (de times grandes, óbvio. 15 de Piracicaba contra Matonense não é jogo, é pelada) ou a Av. Paulista por volta das 18 hs. Pense no número de pessoas espalhados, indo e vindo, quantos milhares de seres não estão trafegando por aquele espaço ao mesmo tempo. Se dentre estes houver um bêbado, desequilibrado, doidão ou em outros estados variados da mente humana (induzido ou natural) e, ao mesmo tempo, eu ou meu irmão estivermos passando por perto, das mais de mil pessoas existentes é quase que certo que ele virá falar comigo ou com ele - e não irá embora ao receber um trocado como a maioria destes indivíduos.

Certa vez meu irmão e um amigo estavam esperando o ônibus e aproximou-se um bêbado:
- E aêee garotos, tudo em ordem com vocêess?

Meu irmão, cordial, para o sujeito que nunca viu na vida:
- Ooopa, tudo em riba. E com o senhor?

- Tudo bom. Eu só vim aqui pra falar pra vocêsh que conshidero vocêsh pra cacete.
- (?!)
- É verdade. Amo vocheeeis como se fossem meus filhos! Ossh filhos que eu não tive...
- (!?!?!)
- Mash mudaaando de assuntos, vocês conhecem o Costinha?


E a figura começou a imitar o Costinha, como se fosse algo totalmente natural. Depois declarou o amor dele mais uma vez pelos dois, deu um conselho ("E nuuum esqueçam, se forem foder, usem camisinha, porra!") e voltou para algum lugar no meio do limbo. Pior que meu irmão disse depois que, apesar de tudo, o cara fez a melhor imitação do Costinha que ele viu na vida.

E esse tipo de coisa, dependendo da época, é bastante freqüênte. Em alguns períodos ameniza, mas jamais some de vez.

Houve uma outra vez que ia eu para uma balada quando um senhor, lá pela casa dos seu 60 ou 70, chegou perto, olhou para mim, e começou a gritar comigo, como se estivesse dando uma bronca. Andando rápido, tentando me livrar do ser, e ele me seguindo e falando coisas incompreensíveis (nota: eu não sou uma figura que chama a atenção normalmente, estou quase que o tempo todo de calça jeans e camiseta e não tenho tatuagens ou adereços diferentes que possam me tornar alguma espécie de referência, não sei o que ele cismou comigo. Nota 2: eu só me liguei que era português que ele tentava falar porquê uma ou outra palavra era quase compreensível).

Parei ao lado da catraca para aguardar um amigo que viria me encontrar, e o senhor ainda gritou comigo mais uns minutos. Eu estava tranquilo, afinal se ele tentasse algo, eu derrubava ele numa boa - ou eu ou o segurança pelo menos. O fato é que ele passou a catraca e foi seguir seu caminho, enquanto eu já pensava comigo mesmo "ufa". Ilusão. Ele caminhou até o meio da estação, parou, pensou, virou-se, olhou pra mim novamente, foi até mim, gritou mais uns 5 minutos comigo e foi embora.

Teve também uma vez que fui numa exposição do Salvador Dalí que houve por acá há alguns anos, que um japonês me abordou na fila tentando me convencer que ele era "o Salvador Daqui", e parecendo crente mesmo no que falava.

Santo protetor da minha família deve ser Murphy.


posted by D. Vespa




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Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.