segunda-feira, agosto 29, 2005


Como ensinar uma criança a desenhar

Uma coisa que ouço muito das pessoas, normalmente nesta seqüência:

- Puxa vida, e você desenha desde quando?
- Desde bem pequeno.
- Mas alguém te incentivou, tem alguém na família que desenha..?
- Não... Na verdade acho que aprendi porque eu não gostava muito das outras crianças.
- Nossa... (meio encabulado com minha resposta, tentando mudar de assunto)Eu não sei desenhar nem uma casinha. Mas olha (em tom irônico), eu sei fazer uns bonecos de palitos!

Porque todas as pessoas que não desenham desejam saber fazer uma casinha é uma coisa que eu sempre me pergunto. E boa parte dos meus desenhos são bonecos de palitos pintados, também não sei muito bem porque as pessoas que também os fazem desdenham dos pobres, eu gosto tanto...

Mas tem uma coisa que é mentira ou no máximo uma meia verdade no meio desse diálogo tradicional, que geralmente eu omito para não ter que contar muita história: é fato que eu passava muito tempo desenhando porque nem sempre estava com paciência para as outras crianças (eu passei muito tempo desta fase com adultos, então tive alguma dificuldade em lidar com pessoas da minha idade durante alguns anos), mas acho que o ponto chave de eu ter me dedicado a aprender MESMO a rabiscar foi o fato de ter quebrado a perna aos seis anos de idade - o que também influenciou muito para que eu jogue futebol feito uma toupeira até hoje.

Era o último dia de aula e teve toda aquela papagaiada de fim de ano na escolinha, com direito a Papai Noel chegando no carro dos bombeiros, abraços nas tias porque não as veriamos mais até o próximo ano e até distribuição de bolas de plástico vagabundas para as crianças. Eu fiquei um tanto decepcionado, no ano anterior haviam dado Transformers, mas enfim, como era de graça eu não fui mal-agradecido o suficiente para reclamar.

Depois de ter saído da escola fiquei lá brincando, correndo atrás da bola e tal, até que numa bobeira pisei na mesma e caí com uma perna por cima da outra, e minha perna de cima soltou um estalido seco. Fiquei uns segundos até sacar que não conseguia mexer a perna e comecei a gritar pra minha mãe.

Enfim, quebrei um fêmur (!) o que me rendeu oito dias de internação e uns dois meses com as duas pernas imobilizadas por causa do tipo de fratura. Eu já gostava de riscar umas folhas, mas por causa da situação era praticamente a única coisa que eu podia fazer para me distrair - fora ver TV, o que era um saco.

Felizmente eu me recuperei 100%, sem nenhuma seqüela, exceto pelo fato de ter ficado um pouco traumatizado e durante muito tempo achar futebol a coisa mais chata do mundo. Pra falar a verdade, ainda hoje eu não dou a mínina. É engraçado pensar o tanto que essa merda toda interferiu tanto na minha vida, afinal até a profissão que exerço depende e muito da habilidade de desenhar.

Portanto, pais, se quiserem que seu filho(a) aprenda a desenhar, sigam meu conselho: quebrem o fêmur dele(a). :]


posted by D. Vespa




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Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.