sexta-feira, agosto 19, 2005


Cotidiano em trânsito
ou
Magneto's Crazy People Mode=On

Ia para Recife a trabalho, no vôo que saia do aeroporto de Guarulhos-SP, com escala em Brasília.
Tempo programado para chegada após a partida (sempre é bom deixar claro): 3 horas e 30 minutos.

Como é de costume, me sentei numa das últimas poltronas a direita, na janela.
Gosto de ver o movimento da asa na hora da decolagem e da aterrissagem. Coisa infantil, eu sei.

Vôo matinal, estava tranquilo, com mais de dois terços dos assentos desocupados.
Uma senhora senta-se na mesma ala que eu, ao meu lado, no assento do corredor.
Era morena e tinha a testa bem suada.


Explicação psicológica: quando alguém se sentar ao seu lado num vôo quase vazio, é porque ela é do tipo de pessoa que puxará um assunto qualquer com você dentro dos primeiros 15 minutos da viagem, na intenção de bater papo durante todo o percurso. Normalmente essas pessoas têm entre 45 e 65 anos de idade, trazem fotos dos filhos e dos netos na carteira, na bolsa ou na pochete e ficarão extremamente ofendidos caso você não retribua educadamente a atenção que eles estão lhe dedicando com perguntas interessadas, respostas e comentários espirituosos estrategicamente elaborados. São cariocas e nordestinos, em sua grande maioria.

Disfarce aconselhado: finja que está dormindo. Escancare a boca e babe de modo repulsivo, se puder. É o preço do sossego.


Acho que não finji muito bem e, como tive a má-sorte de não ter me lembrado de não me barbear antes do vôo - para parecer tão anti-social quanto realmente sou -, senti um toque no meu braço. E lá fomos nós:

- Desculpe, você estava dormindo?
- Não, não. Só meditando.
- Queria saber se você sabe a que horas o avião pousa em Recife.



(o piloto tinha dito o horário estimado de pouso havia 3 minutos, pelo interfone)


- Não sei. É minha primeira viagem pra lá.
- Eu já fui muitas vezes de ônibus, mas de avião é a primeira também.
- Vai ser bem mais rápido dessa vez, garanto...
- Sempre ia com meu marido, quando ele estava comigo, também é a primeira vez que estou indo sozinha.
- Desculpe. Ele faleceu?
- Não, querido. Nos separamos.
- Sinto muito.
- Porque? Me separar dele foi a melhor coisa que eu já fiz...
- Hummm... porque?



(maldita curiosidade)


- Ele começou a perder o interesse em mim depois de 23 anos de casado.


(quase inacreditável...)


- É, acontece.
- Acredita que ele nem queria me fazer mais sexo oral?
- Não diga...



Foi inevitável que me viesse à mente a cena de um preto véio banguela com uma camiseta xadrez, tirando a dentadura e se abaixando diante daquela senhora com as pernas abertas, num quente dia de verão, para chupar aquela xana tão suada quanto o cenho da dona (a eterna comparação entre testas e vulvas)... daí ele puxa da memória a mesma cena, 20 anos atrás, comparando-a com a triste realidade do presente, pensa algo como "quero isso não" e simula um infarto.

A conversa continua...


- É verdade. Daí não teve salvação.
- Imagino. Deve ter sido uma fase difícil.
- É, mas foi para melhor. Tive muitos namorados depois dele, que me fizeram sentir novamente como uma mulher, livre, viva, desejada...



(e aquela testa que não parava de suar nem por decreto)


- É, sempre é bom ter companhia.
- Sempre é bom ter quem nos chupe, isso sim!

- A senhora me dá licença que eu vou no banheiro?
- Claro, querido... depois continuamos.



Enrolei no banheiro o máximo que pude. Saí quando um dos comissários de bordo - um tremendo galego maricão - foi verificar se eu ainda estava vivo.

Por sorte, encontrei a senhora de testa suada cochilando e fui me sentar em outra poltrona, já que não havia como voltar ao meu assento sem acordá-la. E eu sou muito educado, quando estou vestido.

A testa dela brilhava e um filete de baba saia pelo canto de sua boca.

Alguns dias depois meus pesadelos com a Alicia Silverstone começaram.
Mas isso já é uma outra história...


posted by Pinguim




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Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.