quarta-feira, agosto 31, 2005
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Cotidiano em trânsito ou Magneto's Crazy People Mode=On |
Voltando de Belo Horizonte, à passeio.
Ônibus, 8 horas de viagem até a rodoviária do Tietê em São Paulo.
Viagem tranquila, metade dos assentos ocupados: todos aqueles que viajavam sozinhos conseguem se sentar sem ninguém ao lado - e ainda dizem que o ser humano é um animal social.
Ligo o radar e procuro qualquer coisa consumível entre as companheiras de viagem - eu sempre fico muito promíscuo quando saio da minha terra natal, e tenho como uma das minhas metas de vida comer uma mulher de cada estado do país.
Meu interesse fica dividido entre uma loira de altura (e bunda) cavalar e uma morena mais ou menos da minha altura.
Como a loira parecia ser mais inacessível, talvez por estar com uma amiga, talvez por não ser amiga e sim namorada, e daí talvez por ela ser sapatão, escolhi como vítima a morena.
E eu também não gosto de mulher estranha me olhando do alto. A gente não pode dar sensação de poder para essas porras...
Cabelos negros longos, a morena era bem bonita, e parecia estar me dando mole - se bem que eu sempre acho que todo mundo está me dando mole, então, vai saber...
Estava vestida de um jeito bem moleque que eu adoro... boné e jaqueta jeans, uma calça fina clara que deixava a panturrilha a mostra, e nela uma tatuagem média que eu não conseguia discernir bem qual era.
Na primeira parada, ela ficou no ônibus. Desci, jantei. Comprei um Suflair (aquela barra de chocolate aerado*) e voltei.
*chocolate aerado = chocolate com pouco chocolate
Indo para minha poltrona, no final do ônibus à direita, passei pela poltrona dela, no centro à esquerda. Falei que tinha comprado o chocolate para ela, entreguei e voltei para meu lugar, sem dar tempo para que ela falasse qualquer coisa.
Sentei-me e reparei que ela ficou alguns instantes olhando para mim, com uma cara que eu não sabia do que era.
Já com o ônibus em movimento, ela se levantou, veio até meu assento e perguntou se podia se sentar comigo. Benevolente, consenti, como se estivesse fazendo um favor. Ela voltou ao lugar dela, buscou a mochila de viagem, um discman, um urso de pelúcia e voltou.
Conversamos um pouco, ela perguntou o porquê d'eu ter dado aquele chocolate. Falei que não tinha porquê.
Perguntei se ela morava em Belo Horizonte ou em São Paulo. Ela disse que tinha ido passar duas semanas em BH, visitando alguns parentes e agora estava voltando pra casa - e lá se foi meu desejo de riscar o "mineira" da minha lista de fodas.
Foi então que ela comentou que tinha feito aniversário dois dias atrás.
Pensei... "é agora". Dei parabéns, falei que ela merecia um presente e já fui logo colocando a minha língua dentro da sua boca.
Ela perguntou se eu tinha sentido alguma coisa de diferente no beijo.
(foi a primeira vez que eu beijei alguém com piercing na língua)
Ficamos conversando e, entre uma apalpada e outra, não sei porquê o assunto caiu nisso:
- Eu já fiquei presa 2 anos.
- Sério? Porque?
- Tentativa de assassinato.
- Não brinca. Quem você tentou matar?
- Meu irmão.
- O que ele fez?
- Ele disse que ia me dedurar por causa de um cara que eu matei.
- Humm... e porque você matou esse cara?
- A gente se conheceu um dia numa boate, ficamos juntos e ele falou alto comigo. Quis ir embora, ele bateu em mim. E homem nenhum nesse mundo bate em mim.
- Sinto muito. Mas porque seu irmão queria te entregar?
- Porque eu já tinha tentado matar ele antes, e ele quis dar o troco.
- E ele te dedurou mesmo?
- Não. Desistiu, porque eu falei que da terceira vez não passava.(confesso que até aqui eu estava achando que era tudo brincadeira)
- Faz quanto tempo que você saiu da cadeia?
- Quase 1 ano. Nossa, como sua mão está suando...
- É que o tempo está quente, não repara.
- Está nervoso?
- Eu não. Claro, comigo não tem problema, mas acho que você não devia ficar contando essas coisas pra todo mundo...
- Porque? Se você contar alguma coisa pra alguém, eu te caço como a um cão e te mato nem que seja no inferno.Fiquei quieto, mas continuei lá sentado. Fui eu que comi o chocolate que dei pra ela.
Continuei acariciando-a e beijando-a de quando em vez, como antes. Ela não estava reclamando, e vai saber o que ia passar naquela cabeça se eu parasse? E salvo o susto e a apreensão por estar acompanhado por, no mínimo, uma doida varrida, aquilo me excitava um pouco.
O ônibus chega na rodoviária do Tietê, pouco depois da meia-noite.
Descemos juntos, depois dela ter pedido o meu número de telefone.
Ela diz:
- Espera um pouco aqui comigo. Se meu namorado não aparecer pra me buscar, a gente vai lá pra casa.
- Puxa, desculpa, mas eu moro em outra cidade e se eu não pegar o próximo ônibus, só vai ter outro daqui a 4 horas.
- Tudo bem então, eu te ligo durante a semana, tá legal?
- Claro, se cuida.Me piquei dali, antes que o namorado dela - provavelmente um dos Irmãos Metralha - aparecesse.
Como tenho o hábito de passar telefone falso para aqueles sujeitos que nos abordam na Praça da Sé e nas feiras de informática tentando vender assinaturas de algum jornal ou revista - passo dados falsos para o formulário da assinatura só para ganhar o brinde que é entregue na hora -, realmente não tenho certeza se passei o número certo para ela.
Só sei que, se escrevi corretamente, a vagabunda ingrata nunca me ligou.
posted by Pinguim
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Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.