quinta-feira, setembro 01, 2005
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Personagens Folclóricos de Cidade Pequena |
Na rua mais antiga do centro da cidade, próximo a Igreja Matriz, a lavanderia e ao antigo tabelionato, mora um sujeito de meia-idade que não tem o maxilar inferior. Não se sabe ao certo se por câncer ou por algum outro tipo de problema, este foi completamente removido cirurgicamente.
Ele sempre pode ser visto sentado na pequena escada em frente a sua residência, de boné cinza, silencioso, olhar distante e sorriso aberto. É uma cena curiosa.
Quem não o conhece e o olha pela primeira vez, pensa algo como "tá faltando alguma coisa aí, mas o que será?".
Certa vez, alguns dos seus amigos juntaram uma grana e compraram para ele uma moto usada, na cor preta, de 180 cilindradas. Desde então é comum vê-lo rodando com ela pelas ruas do centro e proximidades, usando sua jaqueta de couro preta, sem capacete, com o vento batendo em seus cabelos grisalhos. Acima da lei, os policiais nunca o param para fazer perguntas.
Ganhou o apelido de "Motoqueiro Fantasma".
Na falta de um ambiente ideal de sobre-vida, boiolas proliferam por todos os cantos.
Mas apenas em cidades pequenas existem os boiolas portadores do gene X mutante - os leitores de HQs vão se atentar ao fato de que boa parte dos membros do X-Men e de outras equipes X vieram de cidades pequenas.
Até hoje não se sabe se a história é verídica, mas dizem que, certa vez, houve um cidadão que nasceu sem o pênis (pinto, cacete, bilau, etc.).
Cidadão bem conhecido, influente, muito rico e de boa família, chegou a ser vereador e líder da Câmara Municipal
Como nunca teve a possibilidade física de descobrir se as mulheres poderiam lhe causar prazer no modo bíblico, saciava-se pelo seu reto com os rapazes ativos da região, adeptos da arte de ganhar dinheiro fácil para comprar roupas de marca e acessórios para seus skates - e quero deixar claro que, apesar de ter andado muito de skate, não participei dessa época do cu dourado.
Culto, casou-se com uma moça escolhida dentre várias simplesmente por ter prazer em sua companhia, e por ela entender as impossibilidades físicas do esposo, aceitando seus hábitos sexuais pouco ortodoxos.
Faleceu aos 77 anos de idade, por insuficiência cardio-respiratória. Sem filhos.
No testamento, deixou um terço dos seus bens para a esposa, e o restante a ser distribuído em partes iguais para alguns vizinhos, moradores e antigos moradores das redondezas. Alguns, já pais de família na época, tiveram muitos problemas em explicar o porquê do recebimento daquela herança.
Toda cidade pequena é conhecida por ceder ao poder público o direito sobre a vida de todos os seus moradores. O comprimento dessa cessão de direitos é medido pelo naipe de seus fofoqueiros.
E, na minha opinião, não há nada mais curioso do que um fofoqueiro mudo.
Morador de rua, vivendo de favores e sem poder emitir sons que não fossem grunhidos, aquele rapaz usava e abusava da linguagem dos sinais para contar tudo o que via a todos.
Boa parte de sua rotina diária consistia em dar voltas pelo comércio local e pelas casas da região, sorvendo e distribuindo informação para qualquer um que lhe pagasse um lanche.
Todos diziam que era a fonte mais segura da cidade, e assim como Corinthians e Paulo Maluf, sua existência dividia opiniões entre todos os cidadãos.
Foi dele o "furo de reportagem" a respeito da perda da virgindade da filha do vice-prefeito, que ocorreu dentro de uma S10 estacionada em frente ao posto da Guarda Municipal - lugar onde ele costumava dormir a noite. A sua encenação mímica do acontecimento, delatando dia, horário e o dono do pênis invasor entrou para os registros não-escritos da cidade como uma das coisas mais engraçadas já vistas nos últimos 23 anos e foi o depoimento decisivo para o desencalhe obrigatório da moça.
Também é o responsável indireto por um dos bordões mais conhecidos da região:
"- Vai tomar no seu cu, mudinho!"
posted by Pinguim
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Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.