quarta-feira, outubro 05, 2005
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Uma nota sobre desarmamento |
É óbvio que eu gostaria que ninguém tivesse armas. É óbvio que eu queria viver na realidade utópica que apresentam nas propagandas a favor do sim ou no mundo que, apesar de violento, é totalmente seguro graças às armas, assim como é apresentado nas propagandas em prol do não (se eu fosse psiquiatra acho que diagnosticaria esquizofrenia coletiva ao povo que luta pelo não. O povo do sim ao menos é só hippie, não precisa fazer sentido o que falam).
Mas o que até agora não consegui foram dados sólidos, frios (isento de paixões, vontades ou índole de quem os coletou) e completamente imparciais do que tudo isto pode acarretar, caso o sim saia vencedor. Não quero saber do fazendeiro que mora em Cabrobró e tem problemas com a falta de segurança portanto precisa da arma, é uma situação que é totalmente a exceção da exceção, não é uma realidade aplicável a um pais inteiro, ou que, em contrapartida, o Carlinhos Brown (artista “consciente” padrão globo) sabe fazer sinal de pombinha com as mãos - coisa que deve comover muito a bandidagem se você o fizer durante um sequestro ou assalto.
Bom, os pontos que me levam a questionar a validade do referendo são:
- Quem já tem porte e armas não terá que se desfazer delas (repare, é proibido o comércio, não o porte. Ou seja, o sujeito só não pode vender a arma, mas ter e portar sim. Mudou o que?);
- Já é um porre tirar porte e a grande maioria não consegue, e até onde sei, civis não podem mais tira-lo já há algum tempo. Uma pessoa que não possua porte pode comprar armas legalmente? Eu ainda não sei se isso é possível. Se sim, acho que solução melhor seria restringir a venda somente a quem tiver a habilitação comprovando preparo para possuir a arma;
- O sujeito que é pego com armas e que não tem direito de porta-las automaticamente é classificado como contraventor. Logo, não faz diferença alguma ter comércio proibido ou não se a pessoa não tiver a licença para possuir um revolver. Procede?;
- Eu acho SIM que muitos bandidos se sentirão muito mais a vontade na prática de crimes como invasões ou assaltos nas ruas, mesmo que o cidadão comum raramente tenha armas legais (ou não legais) já nos dias de hoje. Claro, será um efeito puramente psicológico e temporário, mas acarretará em danos graves até passar;
- Há casos que é necessário portar uma arma. Eu jamais seria um taxista ou um dono de bar sem ter uma – Aliás, eu já presenciei o começo de uma briga que teria tomado proporções homéricas se o dono do lugar não houvesse puxado o revolver debaixo do balcão e mostrado para os envolvidos. Foi uma forma bem rápida de colocar aquele povo pra fora do lugar;
- A única vez que fui ameaçado na minha vida por um sujeito que tinha armas provinha de um ser que nem de longe pode ter porte. Não creio que ele ou qualquer outro cabeça-oca da mesma laia vá desfazer-se delas simplesmente porque o referendo deu sim. Qual a solução então?
Estas e outras coisas ainda estão na minha cabeça e me impedem de decidir pelo que vou votar. Se fosse pra faze-lo sem pensar, instintivamente eu voltaria pelo sim, mas totalmente movido pela raiva que tenho de qualquer coisa que possa causar danos em qualquer escala a outras pessoas sem a não permissão de uma defesa justa - é fácil demais ser macho atrás de um revolver. Mas a partir do momento que eu não acredito que fará alguma grande diferença, não posso ir lá e simplesmente clicar no sim sem ter uma justificativa pra mim mesmo. Vai ter impacto. Vai trazer transtorno pra gente que eu não conheço e que não sei o porque deles pela opção por ter uma arma. Não acho que se o não vencer todo mundo irá querer ser o Charles Bronson, como muita gente já me disse – afinal, como falou um cara de uma lista que participo, armas não são o Um Anel de “O sr. dos Anéis” e ficam tentando as pessoas a usa-las – se elas usam, é por livre e espontânea vontade. Se não for um revolver, será uma faca, um paralelepípedo ou uma garrafa quebrada.
Juro que estou me esforçando para arrumar algum argumento que me convença a votar pelo sim mas, pela lógica que eu consegui estabelecer, ainda não consegui motivos suficientes que justificassem mudança na situação atual.
Seguindo a busca por mais respostas.
posted by D. Vespa
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Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.