segunda-feira, novembro 21, 2005
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Dissonância |
Todo mundo já sentiu isso alguma vez na vida, creio. Sensação de viver fora do cotidiano/esfera comum, fora do tempo, fora de sintonia com tudo mais ao redor. Claro que isso é catalisado pela capacidade de supervalorização dos próprios problemas, daqueles que geralmente surgem quando você não tem nenhum grande problema real para pensar - e logicamente, com a cabeça desocupada, você se põe a trabalhar nos seus "problemas existenciais". Algumas vezes essas crises vem em decorrência de alguns problemas "verdadeiros" também, normalmente advindos de questionamentos relativos a justiça de acontecimentos pois, por mais que se tenha certeza que não haja alguém que pune ou recompense as pessoas por suas ações (sim, eu acredito que, mesmo que possa existir um Deus ou qualquer espécie de inteligência superior, ela deixou o mundo no automático há tempos e não faz mais nada além de observar. Somos ratos de laboratório ou filhos de um acaso extremo, sendo que tanto uma quanto outra não faz a menor diferença para nós), acho que SEMPRE passa pela cabeça o famoso "porque isso foi acontecer justo comigo? Eu sou um azarado mesmo!" ignorando que pode ter acontecido com outros milhões de pessoas ainda mais merecedoras da tal "recompensa divina" ou coisa do gênero. Não acho saudável tentar barrar este sentimento ruim com pensamentos à la Polyanna, tentando compensar a própria desgraça com "puxa, eu estou fodido, mas podia ser pior, poderia ter sido com areia como foi com aquele outro pobre infeliz", mas também não é recomendável deixar que isso te consuma por mais de dez minutos.
Voltando ao assunto inicial (maldita mania de querer explicar tudo didaticamente, estende demais os textos), a coisa que mais alimenta essa sensação de não estar existindo de acordo às regras do mundo (embora ninguém saiba de verdade quais são) é a não compreensão do que exatamente se está fazendo por aqui. Para que tantas complicações, brigas, intriguinhas, egoísmo se no fim das contas todo mundo vira adubo? Até a mais fútil das pessoas em algum momento bate de frente com isso, por mais que ela queira manter este tipo de pensamentos afastados - acho que é o que explica porque tantos rockstars e outros seres que tem praticamente tudo na vida acabam se destruindo com drogas ou álcool, deve ser bastante tentador ter dinheiro e acesso ridiculamente fácil a uma fuga, ainda mais se associada a uma força de vontade mais fraca ou a um momento de grande confusão. Não, não quero que pareça que culpo a sensação de "esforço inútil", eu culpo a incapacidade de entender o que move os outros seres humanos a tomarem determinadas atitudes conscientes da conseqüência que aquilo terá, ou sabendo que não precisa de determinada cousa mas a faz mesmo assim - vide caso recente onde trabalho, onde suspeita-se que um superior esteja lendo, sem avisar aos funcionários, a todas as mensagens trocadas num Instant Messenger utilizado internamente na empresa. Na última das hipóteses, ele poderia alegar que é para que não vazem informações confidenciais para fora da empresa ou sabotagens e coisa e tal(mais justificável, mas não menos errado), mas o que levantou a suspeita foi um comentário sobre uma conversa particular que duas moças daqui discutiram via programa (e eu espero realmente que seja uma suspeita infundada. Se não for, seria bastante digno da parte dele desculpar-se). Eu sei também que há mais gente que não perderia a chance de ver o log dos arquivos destas conversas por nada, da mesma forma que fica esmiuçando cada scrap postado no profile das pessoas no orkut, com fins não de ver se está tudo bem com o alvo, mas sim buscar descobrir alguma particularidade sobre a pessoa. Quanto mais sórdida, mais saborosa para o ego deles, mais assuntos para se conversar pelas costas das pessoas, ou de repente só uma sensaçãozinha cretina de poder sobre o outro indivíduo. Como foi dito em mesa de bar, coisa de punheteiro.
A dissonância vem de quando você compara suas atitudes com a de outras pessoas (sem entrar nos méritos de certo ou errado) e percebe que boa parte das suas não seriam ou são as mesmas tomadas por elas. Deriva um pouco da frustração de não fazer parte do grupo, mesmo que você não tenha vontade de participar do mesmo - cai de novo no que eu falei sobre compreender o que move seus indivíduos. Qual segurança pode-se encontrar vivendo num meio que te deixa confuso?
Só sei que no fim das contas a única pergunta que me incomoda de verdade não é se existe vida após a morte ou mistério da vida, do universo e tudo mais (que, como todos sabem, a resposta é "42"). No final, eu me pergunto porque diabos gastamos energia com tanta bobagem ao invés de tentarmos nos divertir com o pouco tempo que ganhamos por aqui? Afinal, já que tecnicamente não viemos para cá por vontade própria, seria lógico tentar ao menos transformar essa sociedade forçada em algo mais agradável. Ou não?
*Segunda-feira é foda...
posted by D. Vespa
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Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.