quarta-feira, novembro 23, 2005



Na idade média, lá pelos idos de 1400 e qualquer cousa, a Inglaterra guerreava com países vizinhos por territórios, em especial com a França. O Exército inglês era, naquela época, o mais poderoso de todos e raramente perdiam uma batalha, o que lhes rendeu domínio por muito tempo em diversas regiões da Europa.

Os ingleses tinham tudo que um bom exército precisava ter: bons soldados, estrategistas e claro, uma meia dúzia de nobres que vestiam elegantes armaduras reluzentes montados em imensos cavalos, mesmo que estes sejam pouco funcionais quando dois regimentos entravam em conflito - um cavalo é um alvo um bocado grande para se atingir e derrubar, por conseqüência, o seu cavaleiro. Mas, por uma questão da imponência que isso transmitia e do status que ser um cavaleiro inspirava nos nobres dos outros exército, essa pavonice estava sempre presente nos campos de batalha, chegando até mesmo a pararem os grupos rivais para que nobres de um lado e do outro pudessem enfrentar-se em um duelo de lanças, raramente com perigo de morte verdadeiro mas sempre todo cheio de mesuras e admirações entre os oponentes.

Mas o que fazia do exército inglês quase invencível era justamente a classe mais desprezada dentro do mesmo, considerada inferior até mesmo aos soldados, pois esta era formada quase que exclusivamente por pessoas de origem camponesa e atacavam à distância. Eram os arqueiros.

Por algum motivo os camponeses da Inglaterra adotaram o arqueirismo como esporte nacional, mais ou menos como nós brasileiros adotamos o futebol, e desde crianças começavam a treinar com arcos. Bons arqueiros formam-se de pequenos, pois como o treino começa muito cedo, músculos e reflexos desenvolve-se para adequar-se da forma mais perfeita àquela função. Jamais alguém conseguiria tornar-se um excelente arqueiro se começasse a prática tarde demais (tarde demais entenda-se com mais do que 6 anos de idade, aproximadamente).

Era muito simples. Arqueiros iam na frente, flechavam todos que podiam, enfraqueciam muito o exército inimigo e só depois soldados, liderados por um líder que normalmente era algum soldado mais experiente, iam e chacinavam os sobreviventes. Mesmo que no fundo todos soubessem que se não fosse a arqueiria eles poderiam nem mesmo ter sobrevivido para contar a história, desprezavam os arqueiros e ficavam lá, orgulhosos, tecendo elogios uns aos outros e de como foram corajosos em campo e, que se não fosse sua coragem e audácia, jamais teriam ganho aquela batalha. E lá vinha o rei, conceder títulos e propriedades ao brilhante nobre que liderou o ataque, mesmo que ele tenha ficado na retaguarda e só tenha participado de um amigável torneio de cavaleiros. Não importa que quem pensou que um ataque lateral era mais inteligente que um frontal foi um líder de bando, ou que ele no máximo assistiu (entediado) a uma discussão dos militares sob sua responsabilidade sobre a melhor estratégia e deu um ou dois palpites aqui e ali que, aliás, só foram feitos para que ele pudesse ter sua disputa com os nobres do outro exercito - deveras relevante para a batalha toda, claro! Era isso que demonstrava todo o poderio da Inglaterra, logicamente não era aquele bando de arqueiros e soldados que tingiram gramados e gramados de sangue, deles mesmos ou dos inimigos. A diferença deles para os cavalos é que entendiam melhor as ordens, embora os cavalos tivessem a vantagem de não ficarem bêbados.

É horrível quando se tem motivos para crer que depois de 600 esta mentalidade anda não mudou um centímetro que seja, e que ainda é aplicado na vida cotidiana de quase todas pessoas (estejam ou não em guerras). Exceto, talvez, pelo fato que não é mais necessário perfurar pessoas com uma espada bastarda ou um arco galês.


posted by D. Vespa




***********

Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.