terça-feira, março 07, 2006



Twilight Zone

Morando a mais de 3500 metros da central telefônica mais próxima, o sinal que chegava para o meu speedy - serviço de banda larga da Telefônica aqui em São Paulo - sempre foi uma bosta. A conexão nunca se manteve como a mais estável do mundo mas, salvo problemas isolados e demoras para realizar a primeira conexão, funcionava regularmente bem.

7 semanas atrás comecei a ter um problema curioso com o mesmo.
Em todos os dias úteis, a partir das 7 horas da manhã, meu modem perdia o sinal de sincronismo e assim ficava até o final da tarde.
Aos sábados, domingos e feriados, o problema não acontecia.

Como a região carece de opções de acesso, insisti em resolver o problema sem (poder) recorrer a algum serviço concorrente.

Ocorreram várias visitas de técnicos da prestadora até minha residência, todas elas sem nunca resolverem o problema.
Ora, o problema era com o modem - e eu trocava o modem. Ora, com a instalação interna - e eu subia no telhado para trocar os conectores e fios.

Semana passada, quando não havia mais simplesmente nada que eu pudesse trocar internamente, e o problema persistindo, abri nova reclamação junto a Telefônica, e solicitei que enviassem novamente alguém para ver o que ainda estava ocorrendo. Deixei claro que a visita deveria acontecer na parte da manhã, já que no final da tarde, normalmente, o problema desaparecia e tudo funcionava normalmente.

Ignorando minha recomendação, no final da tarde do mesmo dia um técnico apareceu, realizou alguns testes e, como era esperado, viu que estava tudo funcionando perfeitamente.
Apenas chamou a atenção para o fato do sinal estar se perdendo do poste telefônico em frente a minha casa até a parede onde o modem recebia o fio do telefone, fazendo com que ele ficasse no limite mínimo para sincronização.
Pela 34ª vez, expliquei que na parte da tarde o problema de falta de sincronização nunca ocorria. Ele, incrédulo, deu a entender que esse tipo de problema não era possível, devido a infra-estrutura utilizada para ceder o sinal na central. Insisti e pedi que ele me deixasse seu telefone, para que eu ligasse diretamente para ele no dia seguinte, pela manhã, quando o sinal caísse novamente - coisa que eu estava certo que aconteceria. Telefone anotado, aguardei até o dia seguinte.

Na manhã seguinte de uma sexta-feira, estranhamente, a queda de sinal, sempre tão pontualmente observada e logada pelo meu roteador, não aconteceu no horário previsto, chegando com um atraso de 4 horas.
As 11 da manhã liguei para o técnico, informando da queda de sinal e perguntando se ele poderia vir o mais rápido que pudesse para que conseguisse pegar o problema. Ele disse estar em um atendimento, mas que provavelmente conseguiria chegar entre meio-dia e meio e uma da tarde.

Aguardei até 13:30hs, e nada dele. Liguei novamente.
Disse que chegaria em 10 minutos. Esperei mais uma hora e nada.
Liguei novamente para dizer que precisava sair para fazer um serviço e que não poderia aguardá-lo, pedindo para voltar algum outro dia, já que não teria ninguém no local para recebê-lo mas, dessa vez, o telefone só dava caixa postal por falta de sinal.
Peguei minhas mala e saí para atender um cliente daqui de perto. No caminho, liguei na Telefônica, expliquei o acontecido e pedi que enviassem um técnico na segunda-feira pela manhã, sem falta, se possível.

Duas horas depois, enquanto eu estava fazendo a medição ôhmica de um cabo de rede, meu celular toca. A bina identifica o número da minha casa.
Atendo. É o técnico fujão, pendurado no poste telefônico, falando comigo através de um gato, e começa:


- Eu subi aqui no poste para verificar o sinal, e está normal. Você vai ter que trocar a fiação interna da sua casa para que o speedy funcione normalmente.

- Olha, eu troquei essa fiação inteira recentemente. Se tiver que trocar de novo, tudo bem. Mas da última vez que o sinal caiu durante o horário comercial, eu fiz um teste puxando um fio direto do modem até o poste para ter certeza que a nova troca resolveria o problema, mas ele persistiu.

- Mas você isolou direito as pontas? Se não isolar, o sinal se perde também...



(pura bobagem... fio de telefone funciona até com ponta molhada, desde que os terminais não se encostem...)


- Sim... eu estou acostumado a mexer com essas coisas, sei o que estou fazendo.

- Então, só refaça a instalação que vai funcionar direito. Garanto.

- Olha... quando eu fiz a reclamação na Telefônica, disse que o técnico deveria aparecer na parte da manhã. Você apareceu dois dias a tarde, assim não vai pegar o problema e não pode garantir muita coisa, concorda?

- Mas senhor, não existe variação de sinal da tarde para a manhã ou para a noite. Se está funcionando agora no poste e for puxado um fio novo, vai com certeza funcionar normalmente.

- Você escutou quando eu disse que já fiz isso e não resolveu? Não me importa o sinal que dá no poste... importa que meu modem sincronize e receba sinal, o que não acontece dentro do horário que eu já expliquei.

- Mas iria vir logo cedo se o senhor tivesse me chamado.

- Eu não chamei porque hoje, especificamente, o problema não aconteceu. Você iria fazer o que lá em casa? Tomar café?

- Senhor, não é necessário usar de grosseria.

- E também não é necessário me tratar como um panaca. Então, faça-me o favor de estar em casa na segunda-feira logo pela manhã. Comprarei alguns croissants e te farei um chá, e você fica lá esperando o maldito sinal cair para poder ver o porquê disso acontecer. Combinado?

- Sim Senhor, voltarei na segunda-feira cedo.

- Obrigado.



Desliguei e voltei para meus afazeres.


Dia seguinte, sábado, 11 da manhã.
Campainha toca, acordo para atender.
Um técnico da Telefônica diferente do abilolado do dia anterior aparece na frente da minha casa, dizendo estar atendendo um chamado para resover o problema do sinal do Speedy. Me chamou a atenção o carro que estava: um Fiat 147 amarelo, bem conservado até.

Contrariado, deixei-o entrar, e já ia explicando o problema todo pela 35ª vez quando, estranhamente, percebi que o speedy estava dessincronizado, fugindo do padrão registrado de "só cairás nos dias úteis, das 7:00 às 17:00".

Mostrando uma tremenda praticidade, o técnico, que dizia se chamar Wellington, puxou as ferramentas e começou a resolver o problema.
Ligou plugs, conectores RJ11, fios e padrões de teste.
De 30 em 30 minutos pedia que eu abrisse o portão para que ele fosse fazer alguma coisa nos postes da rua, próximos ao poste principal que trazia minha linha, e voltava dizendo coisas do tipo "tinha um nó duas avenidas abaixo roubando um pouco do sinal, mas consegui refazer o cabeamento e normalizou", pedia um copo de água e continuava trabalhando.

Ficou lá por umas 4 horas. Resolveu o problema completamente, com um discernimento técnico digno de mim (iééééééé).
Se despediu, deixando um número de telefone para o caso de voltar a acontecer algum problema.

Antes que fosse embora, comentei a respeito da discussão com o técnico anterior, perguntei se ele o conhecia e, quando respondeu positivamente, pedi que entrasse em contato avisando que não precisava comparecer na segunda-feira cedo. Me disse para ficar despreocupado e foi embora.


Dois dias depois, segunda-feira, 9 da manhã.
Campainha toca. Atendo.
O mesmo técnico abilolado da semana anterior aparece na frente da minha casa, conforme o combinado.

Perguntei se ele não havia conversado com o outro técnico. Expliquei que o problema tinha sido resolvido no sábado. Ele começou:


- Senhor, não temos técnicos disponíveis aos sábados para atender a esse tipo de chamada. Todos os que ficam de plantão atendem apenas chamados de emergência.

- Mas não é possível. Ele veio aqui 11 da manhã, estava com um carro com logotipo da prestadora e tudo o mais. Deixou telefone, disse que te conhecia e que ia dar o recado para você não ter que vir aqui hoje.

- Pode me passar esse telefone?



(entrei em casa para pegar o papel com o nome e telefone anotados por ele mesmo)


- Aqui está.

- Wellington?!?!?



(me olhou com uma cara de assustado, mais amarelo do que de qualquer outra cor)


- Sim, Wellington. Porque?

- Isso é alguma brincadeira?

- ????

- Senhor, o único Wellington que eu conheço que trabalhava para a Telefônica morreu há um ano.



(olhei para ele com uma cara de assustado, mais amarelo do que de qualquer outra cor)


- Isso é alguma brincadeira?!?!?

- Não senhor. Ele morreu fazendo um atendimento aqui nesse bairro. Trabalhou pouco tempo com a gente, acho que umas 7 semanas.
Era sempre muito pontual. Chegava no guichê de registro de atendimentos para pegar as Ordens de Serviço todos os dias as 7:00 da manhã, mas se recusava a ficar depois do expediente, as 17:00hs.

- Mas o que aconteceu com ele?

- Chegou umas 4 horas atrasado numa sexta-feira, e por isso teve que trabalhar no sábado para fazer um atendimento de emergência aqui perto, para cobrir o técnico que havia atendido uma chamada no lugar dele no dia anterior.
Parece que, enquanto fechava o armário de fios de uma quadra, foi atropelado por um Fiat 147 amarelo e morreu na hora...



Eu ainda não liguei para o número de telefone do papel.
E nem pretendo.



Moral da história: tem problemas com a Telefônica que só o Além explica...


posted by Pinguim




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Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.