segunda-feira, maio 08, 2006


Malditos Imigrantes

Bairro da Liberdade, reduto de mestiças gostosas, japonesas velhas, criaturas de pau pequeno e turistas que acham que aquilo lá é um lugar exótico - pfe, exótico é o meu guarda-roupas.
Domingão. Feira de "artes" rolando nas calçadas.

Passei em frente a uma das barracas, com alguns quadros sobre ela.
Cada um deles representava alguns ideogramas em Kanji, pintados em preto num fundo azul céu bem viado.

Perguntei para o pintor (um japonês de boné, daqueles com um número de algum candidato a vereador da última eleição) o que cada um daqueles conjuntos de caracteres significava - eram 6, no total.
Ele foi explicando:

- Esses aqui (apontando para o primeiro quadro), é o Koufuku. Felicidade. Representa tudo aquilo que deixa nossa vida completa, né?
- Tá, e esse outro?
- Esse é a Amizade. O Yuujou. Fiz em homenagem aos amigos brasileiros que sempre acolheram a gente tão bem aqui em seu país, né?
- Bacana. E esse?
- Han'ei. Representa a Prosperidade que conseguimos aqui no Brasil e que desejamos para todos os que gostamos, junto com esse outro aqui, que é o Kenkou, que significa Saúde.
- Legal. E o penúltimo?
- É o Chouju, a Longevidade. No nosso país, prezamos muito isso e sempre tentamos mostrar seu significado e sua beleza aos mais jovens.
- Muito bonito. E esse último? O que é? Amor?
- Não, não... esse é o Hiro.
- Hiro? O que significa?
- Hiro. Hiro
(apontando pra si mesmo). Hiro sou eu, é meu nome!
(...)
- Mas pra quê eu vou querer levar um quadro com seu nome?
- Mas é um nome bonito, né?



Reconheço que o tiozinho foi espirituoso, e só não comprei os 6 quadros por causa do velho problema: sou um duro.

Sai de lá e fui até outra barraquinha, que vendia umas esculturas pequenas pra se colocar em cima da mesa do escritório.
Comprei uma que parecia ser imitação de marfim. Um elefantinho sentado, erguendo a tromba. Bem bonitinho. Pechinchei e consegui desconto de uns R$ 5,00.

Tendo que ir embora, resolvi dar uma passada em uma das livrarias para ver se encontrava o volume 6 de uma série de livros que eu já tinha até o volume 5.
Como um bom durango, vou comprando um de cada vez, quando vai sobrando dinheiro, torcendo para que os exemplares não sumam de circulação antes que a coleção esteja completa.

Entrei na loja, localizei o referido livro, peguei-o na estante e levei até o balcão, para perguntar o preço.
Fui atendido por uma japonesa com mais rugas que meu saco. Parecia não falar português (parecia).
Olhou na contra-capa e me disse o preço:

- trinta cinco real
- R$ 35? Faz por R$ 30?


(ela, falou de novo, fingindo não entender a contra-proposta)

- trinta e cinco real
- Mas não faz por trinta não? Eu sempre compro aqui...


(tornou a falar de um jeito como se eu fosse burro e não entendesse o que ela dizia)

- trinta e cinco. trinta e cinco real!


Antes que ela pegasse um papel e fizesse um desenho de três notas de R$ 10 e uma de R$ 5, paguei o valor, sem nenhum descontinho, e fui embora.

Aposto que ela riu de mim em bom português, depois que saí de lá.


Velha vagabunda.


posted by Pinguim




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Plástico bolha é a verdade, a luz e e caminho.